Relações são como músculos, atrofiam se não há dedicação
Participe do encontro sobre o livro Uma boa vida: como viver com mais significado e realização (dia 19/10)
Olá, tudo bem por aí?
Aqui é a Marcelle Xavier, iniciadora do Instituto Amuta, uma plataforma para transformar as relações através do Design. Tudo que fazemos no Amuta é fruto de muito estudo, e criei esse espaço para compartilhar as pesquisas e o processo por trás dos conteúdos e práticas criadas no instituto.
A sociedade moderna incentiva alguns hábitos e rotinas que não são saudáveis para o corpo e para a mente. Por exemplo, falta de exercício. Há cinquenta mil anos, um Homo sapiens teria obtido o exercício físico de que necessitava simplesmente através do esforço de permanecer vivo enquanto hoje vivemos um estilo de vida que requer de nós passar a maior parte do tempo sentadas.
Logo, para manter a nossa forma física, temos de fazer um esforço consciente e reservar um tempo para nos exercitarmos. O mesmo se aplica à aptidão social: se antes vivíamos em tribos nos relacionando a maior parte do tempo, hoje vivemos apartadas e se não escolhermos dedicar tempo para as nossas relações e para desenvolvermos nossa aptidão social, os músculos dos nossos relacionamentos também irão atrofiar.
Além de um estilo de vida que não favorece as relações, duas coisas tornam particularmente difícil cultivar relacionamentos significativos: nossa crença de que os relacionamentos irão funcionar sem esforço e a nossa dificuldade em avaliar a qualidade das nossas relações. Afinal, não dá para subir na balança, medir a pressão ou fazer um check up para diagnosticar nossas relações.
O convite que fazemos no Instituto Amuta e na Lúcidas é abrir mão do nosso romantismo e cinismo e aceitar a importância das nossas relações, olhar profundamente para a qualidade delas e nos dedicarmos ativamente tanto a melhorar a nossa aptidão social quanto às condições dos ambientes que ocupamos para criar contextos favoráveis aos relacionamentos.
Passo 1: assumir a importância das relações
Na nossa sociedade cultivamos uma visão distorcida sobre a importância das relações - chamamos de fracas e carentes as pessoas que admitem precisar umas das outras, e buscamos avidamente a tal independência. Mas a verdade é que a solidão dói, inclusive fisicamente, porque evoluímos para sermos sociais. Há cinquenta mil anos, estar sozinha era perigoso, por isso quando estamos isoladas nossos corpos reagem para sobreviver ao isolamento.
A solidão está associada à maior sensibilidade à dor, à supressão do sistema imunológico, à diminuição da função cerebral e ao sono menos eficaz, tornando uma pessoa já solitária ainda mais cansada e irritada. Para idosas, a solidão é duas vezes menos prejudicial à saúde do que a obesidade, e a solidão crônica aumenta as chances de morte de uma pessoa em qualquer ano em 26%. Aquelas que relataram ser mais solitárias são mais propensas a ter problemas de saúde mental, a envolver-se em comportamentos de risco para a saúde física e a usar estratégias mais negativas para lidar com o estresse.
Passo 2: avaliar a qualidade das suas relações
As pesquisas revelam que a frequência e a qualidade do contato com pessoas que amamos são dois grandes preditores de felicidade. No entanto, quanto tempo realmente passamos com as pessoas que nos fazem bem?
Comece fazendo uma matriz das suas relações respondendo: Quem está na minha vida? Qual é a natureza desses relacionamentos (eles me nutrem ou desgastam)? Quanto tempo passo com cada uma dessas pessoas?
Para compreender mais profundamente sua vida social, pode ser interessante avaliar se existe na sua vida diferentes pessoas que te ajudam a satisfazer suas necessidades sociais:
Segurança e proteção: Quem são as pessoas que você recorre em um momento de crise?
Aprendizagem e Crescimento: Quem te incentiva a experimentar coisas novas, a arriscar, a perseguir os objetivos da sua vida?
Proximidade emocional e confiança: Quem sabe tudo (ou a maioria das coisas) sobre você, te oferece escuta e companhia emocional nas suas questões?
Afirmação de Identidade e Experiência Compartilhada: Quem são as pessoas que você convive que te ajudam a fortalecer sua identidade e seu senso de quem você é e de onde veio?
Intimidade Romântica (Amor e Sexo): Você se sente satisfeita com a quantidade de intimidade romântica e sexual?
Ajuda - informativa e prática: A quem você recorre se precisar resolver um problema prático?
Diversão e relaxamento: Quem te faz rir, relaxar e se divertir?
Passo 3: evoluir, cuidar e nutrir as relações
Uma vez tendo visibilidade da qualidade das relações, podemos escolher nutrir e solidificar relações que nos energizam, dar um empurrãozinho naqueles que têm mais potencial, e escolher dedicar ou não energia para regenerar aqueles que não vão muito bem.
Mas não se esqueça que é importante intencionalidade e dedicação - para cuidar das relações eventualmente vamos precisar abrir mão de um netflix debaixo da coberta, do trabalho até tarde e dos planos habituais. E assim como a academia que funciona melhor quando está na agenda e é frequente, as relações também se beneficiam de hábitos e rituais.
Por fim, é fundamental observar tanto nossos pontos de evolução pessoal para nos tornarmos melhor na arte de se relacionar, como também como podemos criar contextos que favorecem relações saudáveis nos espaços que pertencemos.
Como lidamos com conflito, como nutrimos nossos sonhos individuais e coletivos, o que fazemos para fomentar o pertencimento, quais experiências escolhemos nutrir para criar e aprofundar vínculos, como podemos criar contextos que facilitam relações onde oferecemos atenção, apoio, encorajamento, apreciação, aceitação, cuidado, diversão… Esses são alguns pontos que precisamos e podemos cultivar nas nossas comunidades.
Se aceitarmos a sabedoria e, mais recentemente, a evidência científica de que as nossas relações estão realmente entre as nossas ferramentas mais valiosas para sustentar a saúde e a felicidade, então escolher investir tempo e energia nelas torna-se de vital importância. E um investimento na nossa aptidão social não é apenas um investimento nas nossas vidas como elas são agora. É um investimento que afetará tudo sobre como viveremos no futuro.
Esse post foi escrito a partir do resumo do capítulo 4 do livro Uma boa vida: como viver com mais significado e realização. O Instituto Amuta e a Lúcidas convidam para aprofundar nesse tema em um encontro aberto e gratuito - dia 19/10 às 10h30. Se inscreva no link.
Beijos, e em breve volto com mais atravessamentos!
Marcelle Xavier
Admiro sua habilidade em trazer um ar quase científico para algo que é tão sutil e invizivel. Este texto é para ser relido de tempos em tempos. Obrigada!